Sobre a autora:
Suziane de Oliveira dos Santos Gonçalves
Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi bolsista do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico, CNPq, Brasil. Pós Graduada em Leitura e Produção
de Texto (UFF). Especialista em Educação nas Organizações pela Universidade Veiga de
Almeida (UVA). Formada em Letras Português/ Literaturas (UFF) e Português/ Espanhol
(UFF). Atuou como professora auxiliar na turma de Pedagogia (2019) da UFRJ na disciplina
de Pedagogia Empresarial. Participou do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação
Superior (NEPES) na UFF e atualmente colabora com o Projeto de Extensão: Experiências e
Epifanias, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi uma das autoras do livro
Metodologias Ativas no Ensino Remoto: uma autoetnografia. Em empresas privadas possui
mais de 16 anos como Educadora Organizacional. Atuou na gestão de Recursos Humanos,
com Treinamento e Desenvolvimento e com Marketing. Tem como tema de interesse a
Educação Não Escolar, as Relações Acadêmicas e o Ensino Superior. “Sempre pautei minhas
experiências em alegria e prazer. Tanto na empresa quanto na academia acredito que
podemos desenvolver um trabalho de qualidade num ambiente acolhedor.”
Facebook: Suziane Gonçalves
Instagram: suziane_goncalves
SINOPSE
Este livro aborda a Educação Não Escolar (ENE), contextualizando-a, e aponta
seus limites e possibilidades, apresentando-se como uma leitura indispensável aos
educadores, pedagogos e pesquisadores que trabalham ou visam trabalhar com educação
para além do contexto escolar. Esta obra permite ao leitor conhecer a ENE como espaço
de formação e de inserção profissional para o(a) pedagogo(a) a partir de um estudo de
caso do curso de Pedagogia do Instituto de Educação de Angra dos Reis e aponta
caminhos para que a formação nos cursos de Pedagogia não tenha a escola como único
espaço de aquisição de saber e de atuação do(a) pedagogo(a).
Prefácio:
Por uma educação com maior abertura aos sonhos das outras pessoas
— Se você não quer ser professora, seu lugar não é aqui.
Essa foi a fala de uma professora da Faculdade de Educação de uma
universidade pública brasileira para uma estudante recém-ingressante no curso de
Pedagogia, a qual perguntou onde ela poderia atuar como pedagoga fora da escola.
As instituições são compostas por pessoas e as atitudes, visões de mundo e
subjetividades dessas pessoas trazem impactos enormes nas vidas de outras pessoas.
As possibilidades para que pedagogas e pedagogos atuem em diversos tipos de
contextos, lugares e organizações já existem há bastante tempo. Estes profissionais
podem atuar em organizações hospitalares, militares, cooperativas, associações,
empresas privadas voltadas para o lucro dos mais diversos tipos, assim como em
ambientes escolares e universidades.
Entretanto, em grande parte das Faculdades de Educação e nos cursos de
Pedagogia ao redor do Brasil ainda é muito difícil a trajetória para estudantes que
desejem ser educadores em espaços não escolares. Essas possibilidades seguem sendo
insistentemente bloqueadas, silenciadas.
Enquanto docente, participei de uma reforma curricular em uma grande
universidade pública brasileira no curso de Pedagogia. Participei? Bem... acho que o
verbo mais apropriado seria que tentei. Tentei participar. Insisti. Estive presente em
diversos momentos. E desisti. D-e-s-i-s-t-i! Fui vencido pelo cansaço, pela falta de
abertura, pelo fanatismo alheio. Senti na pele que a maioria dos meus colegas não
queria mudar o curso para que fosse mais aberto, mais permeável aos sonhos das
pessoas, para que incluísse assuntos diferentes daqueles que nós - professores atuais
do curso na época - dominávamos. Eu pensava que a reforma deveria acontecer para o
que estava por vir, para o diferente, o novo, ao menos no sentido de que tivéssemos
esta possibilidade de abertura. E a maioria dos meus colegas pensava que tínhamos
que reformar o curso para continuar “sob nosso domínio”.
— Como vamos propor algo pro curso que nós mesmos não sabemos?
— Exatamente assim. Basta usarmos as vagas de concursos que temos para
contratar profissionais focados nestas áreas novas!
Os poucos colegas que pensavam diferente da maioria, assim como eu,
silenciaram ou também foram vencidos pelo cansaço. No final, o que foi mudado? Em
resumo, reformou-se o curso para não mudar nada. Ou melhor, reformou-se o curso
de modo ainda mais conservador, tornando a graduação em Pedagogia um curso ainda
mais focado em formar exclusiva e unicamente professores para atuarem em escolas.
Poucos são os corajosos que ousam criticar o que está posto. Muitas vezes o
que se critica fica apenas em artigos, mas e na atitude cotidiana? Isso se concretiza?
Educação não é sinônimo de escola. Inclui também a escola, mas vai muito
além dela.
Educação não é sinônimo de ensino. Inclui também ensino, mas vai muito além
dele.
Minha preocupação não é com o que “o mercado” quer ou precisa, e nem com
que os professores universitários que atuam em faculdades de educação querem para
os alunos das instituições em que atuam. Minha preocupação é com os sonhos e
desejos desses estudantes. Com seus desejos e aspirações. E para isso precisamos de
abertura. Curiosidade e abertura.
Eu mesmo mudei completamente de vida profissional aos 29 anos de idade e
larguei uma trajetória empresarial para passar a trabalhar como professor. Por escolha
e opção. Não porque alguém me disse que eu teria que ser professor. Não porque fui
formado única e exclusivamente para atuar como professor em ambientes escolares.
Você vai atrás dos seus sonhos e planos? Como você passou a sonhar e desejar
o que você sonha e deseja?
Nosso papel enquanto educadores precisa ser o de ampliar olhares. Nossos e
dos demais. O de ampliar sonhos. Nossos e dos demais. O de ampliar possibilidades.
Nossas e dos demais. Estimular que cada pessoa construa seus sonhos, objetivos e
caminhos de maneira autônoma, sem terceirizar o que nós acreditamos como “mundo
ideal” de modo a restringir os sonhos, desejos e interesses das demais pessoas. E a
pesquisa de Suziane neste livro vai justamente nesta direção.
A busca de Suziane por viver e sentir na pele o que acontece no curso de
Pedagogia da Universidade Federal Fluminense em Angra dos Reis é interessantíssima
por pelo menos duas razões.
Em primeiro lugar este livro traz uma pesquisa vivida, curiosa e imersa em
polêmicas e desafios. Uma pesquisa corajosa que mostra contradições e visões de
mundo por vezes conflitantes. E que, ao mesmo tempo, mostra que muitas vezes as
rupturas não vem com revoluções nem mudanças enormes, mas com pequenas
mudanças que vão sendo feitas, implementadas, operacionalizadas, e que vão abrindo
novas possibilidades, micro transformações que ensejam o novo, o diferente.
Em segundo lugar, porque traz um alento, um respiro. Uma inspiração. Suziane,
sua trajetória profissional e a pesquisa que ela incorpora neste livro mostram que é,
sim, possível fazer diferente do que está posto como “caminho natural” e que muitas
vezes é alardeado como a única possibilidade para as pessoas.
Se este livro de Suziane ajudar uma leitora e um leitor a sonharem um pouco
diferente do que esperam dela e dele, a sonharem com menos amarras, a construírem
sonhos mais próprios do que definidos por outros, ele sem dúvida já terá cumprido o
seu papel.
Igor Vinicius Lima Valentim
Rio de Janeiro, outubro de 2021
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