Carlos Alves
Biografia:
CONHECENDO O AUTOR
Chamado por alguns de “o poeta da prosa”, Carlos
Alves Vieira se tornou cronista por um acaso, quando seus
textos escritos para o Facebook ganharam popularidade entre
os internautas. Carlos nasceu na Bahia, mas ainda com dois
meses de idade, voltou a Areias, zona rural da cidade de
Uiraúna, terra de origem dos seus pais Antônio Luís Vieira e
Francisca Alves Vieira. Formou - se em Letras pela
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),
especializou-se em Literatura em Ensino pelo Instituto
Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e tornou-se mestre
em Letras pela Universidade Estadual do Rio Grande do
Norte (UERN).
Em 2017 lançou seu primeiro livro – Quem roubou
as crianças da rua? E outras prosas poéticas
As crônicas de Carlos revelam, de maneira sútil, um
mundo cruel, abarrotado de lirismo e nostalgia, além do
recorte da vida diária. Carlos Alves faz uma mistura sensível
de realidade e ficção em que o leitor não consegue dissociar
os dois mundos, vendo-se, muitas vezes, como a
personagem. As crônicas reflexivas arranham tanto a alma
do leitor, que vão soar como “indiretas” daquelas lidas nas
redes sociais. O leitor vai se questionar – “Essa foi pra
mim?”
As Crônicas de Carlos Alves
Temos em mãos aqui uma literatura diferente, um
fuxico ao pé do ouvido do leitor, em que, em determinados
momentos, ele (o leitor) vai se ver escrevendo à medida que
for lendo. Um estilo incomum, um lirismo rude capaz de
fazer o leitor rir, chorar, sentir saudades, querer viver,
tornar-se criança e, criança, desvendar a infância de outrora.
Então, se atente a este mundo que é o seu. Dê uma
pausa para ler os lírios desse campo de palavras. Saia dessa
fúria cega da vida e abrace as crônicas de Carlos Alves. A
mulher olhando a vitrine de uma loja pode ser você. O rapaz
que ficou velho e não consegue se ver como tal no espelho,
pode ser você. As crianças roubadas das ruas podem ter sido
você. As reflexões aqui contidas podem ter sido escritas a
partir de sua vida.
Dois
"Havia dois. Eles lutavam um contra o outro numa
guerra sem fim. Um do lado de fora; outro do lado de
dentro. Um queria entrar; o outro sair. Espiavam-se pela
janela. Um olhava o mundo de fora; o outro, o mundo de
dentro. Era uma queda de braço em que não havia
vencedores. Um queria partir, o outro ficar. Este queria
atender e seguir as normas que regem a sociedade: ser
bonito, magro, descolado, usar roupa de marca, comer em
restaurante fino; o outro não, ele queria ser ele mesmo,
calçar chinelo, usar short e camiseta simples e comer num
bom self-service de dez reais. Um queria estar sempre vestido,
o outro, nu. Um gostava da noite, o outro do dia. Um era
egoísta e ambicioso, o outro, solidário e humilde. Um vivia
arrodeado de gente, o outro era solitário. Um era amado, o
outro amava.
Duas pessoas diferentes em tudo: um, alegre e
sorridente; o outro, casmurro, metido e carrancudo. Um,
inteligente e corajoso; o outro, esperto e preguiçoso. Um
gostava da companhia; outro, de ficar só.
Até que um dia eles se olharam bem no fundo dos
olhos: um, com olhos fundos e abatidos, e o outro, com
olhos coloridos e felizes. Viram que para sobreviverem, era
preciso harmonizar as coisas. Nem tanto ao céu, nem tanto
ao mar. Nem calor, nem frio. Tudo precisava de uma dose
de assentimento. Eles descobriram que um precisava do
outro para viver em paz.
Havia duas pessoas, havia dois de mim."
Carlos Alves
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