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O Menino, O Tempo e as Letras

Atualizado: 19 de jul. de 2022







Carlos Alves


Biografia:


CONHECENDO O AUTOR



Chamado por alguns de “o poeta da prosa”, Carlos

Alves Vieira se tornou cronista por um acaso, quando seus

textos escritos para o Facebook ganharam popularidade entre

os internautas. Carlos nasceu na Bahia, mas ainda com dois

meses de idade, voltou a Areias, zona rural da cidade de

Uiraúna, terra de origem dos seus pais Antônio Luís Vieira e

Francisca Alves Vieira. Formou - se em Letras pela

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),

especializou-se em Literatura em Ensino pelo Instituto

Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e tornou-se mestre

em Letras pela Universidade Estadual do Rio Grande do

Norte (UERN).

Em 2017 lançou seu primeiro livro – Quem roubou

as crianças da rua? E outras prosas poéticas

As crônicas de Carlos revelam, de maneira sútil, um

mundo cruel, abarrotado de lirismo e nostalgia, além do

recorte da vida diária. Carlos Alves faz uma mistura sensível

de realidade e ficção em que o leitor não consegue dissociar

os dois mundos, vendo-se, muitas vezes, como a

personagem. As crônicas reflexivas arranham tanto a alma

do leitor, que vão soar como “indiretas” daquelas lidas nas

redes sociais. O leitor vai se questionar – “Essa foi pra

mim?”









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As Crônicas de Carlos Alves


Temos em mãos aqui uma literatura diferente, um

fuxico ao pé do ouvido do leitor, em que, em determinados

momentos, ele (o leitor) vai se ver escrevendo à medida que

for lendo. Um estilo incomum, um lirismo rude capaz de

fazer o leitor rir, chorar, sentir saudades, querer viver,

tornar-se criança e, criança, desvendar a infância de outrora.

Então, se atente a este mundo que é o seu. Dê uma

pausa para ler os lírios desse campo de palavras. Saia dessa

fúria cega da vida e abrace as crônicas de Carlos Alves. A

mulher olhando a vitrine de uma loja pode ser você. O rapaz

que ficou velho e não consegue se ver como tal no espelho,

pode ser você. As crianças roubadas das ruas podem ter sido

você. As reflexões aqui contidas podem ter sido escritas a

partir de sua vida.

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Dois


"Havia dois. Eles lutavam um contra o outro numa

guerra sem fim. Um do lado de fora; outro do lado de

dentro. Um queria entrar; o outro sair. Espiavam-se pela

janela. Um olhava o mundo de fora; o outro, o mundo de

dentro. Era uma queda de braço em que não havia

vencedores. Um queria partir, o outro ficar. Este queria

atender e seguir as normas que regem a sociedade: ser

bonito, magro, descolado, usar roupa de marca, comer em

restaurante fino; o outro não, ele queria ser ele mesmo,

calçar chinelo, usar short e camiseta simples e comer num

bom self-service de dez reais. Um queria estar sempre vestido,

o outro, nu. Um gostava da noite, o outro do dia. Um era

egoísta e ambicioso, o outro, solidário e humilde. Um vivia

arrodeado de gente, o outro era solitário. Um era amado, o

outro amava.

Duas pessoas diferentes em tudo: um, alegre e

sorridente; o outro, casmurro, metido e carrancudo. Um,

inteligente e corajoso; o outro, esperto e preguiçoso. Um

gostava da companhia; outro, de ficar só.

Até que um dia eles se olharam bem no fundo dos

olhos: um, com olhos fundos e abatidos, e o outro, com

olhos coloridos e felizes. Viram que para sobreviverem, era

preciso harmonizar as coisas. Nem tanto ao céu, nem tanto

ao mar. Nem calor, nem frio. Tudo precisava de uma dose

de assentimento. Eles descobriram que um precisava do

outro para viver em paz.

Havia duas pessoas, havia dois de mim."

Carlos Alves





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